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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Fragmentação: o pesadelo do Android

por Bia Kunze | www.techtudo.com.br




Nos últimos dias, tenho recebido um caminhão de mensagens de donos do dos aparelhos da família SonyEricsson Xperia X10, queixando-se da recente notícia que o aparelho não mais receberá atualizações de sistema. Entram aí, além do próprio X10, os irmãos menores X10 mini e mini pro.

Sabemos que a obsolescência dos dispositivos móveis acontece num ritmo acelerado; contudo, é compreensível a ira de pessoas que adquiriram o aparelho há pouco mais de 6 meses. Primeiro, tiveram que confiar na promessa da empresa que ele receberia uma atualização para a versão 2.1, e ficaram um bom tempo com um OS que já estava defasado quando o aparelho chegou às lojas — o 1.6. O update saiu no fim do ano passado, e menos de um mês depois, chega a notícia de que esta foi a primeira e única atualização que a família X10 receberá — todas as atenções da empresa agora ficarão no novíssimo Arc, anunciado na CES semana passada.

Chegamos num ponto em que ferramentas, funcionalidades e detalhes técnicos do hardware dos aparelhos Android não são mais fatores cruciais na hora da compra. Hoje, recomendo outra avaliação. A pergunta número 1 passou a ser: você vai querer atualizá-lo no futuro?

A principal consequência desse novo paradigma é a chamada fragmentação. O Android já tem que lidar com problemas inerentes ao seu universo, como aparelhos de diferentes telas — isso obriga desenvolvedores a terem que adaptar seus aplicativos à toda gama de dispositivos deste sistema. Mas os aparelhos que ficam estagnados numa versão de OS mais antiga podem não suportar as atualizações, que são uma evolução natural do software. Uma quantia considerável de apps do Market exige, de cara, pelo menos a versão 2.0 para que funcionem.

Para alguns usuários, o que importa na escolha de um dispositivo móvel é apenas o que ele faz no presente, com a questão das atualizações dispensando maiores preocupações. Porém, as pessoas estão cada vez mais bem informadas, e quem busca um smartphone hoje em dia sabe que terá um computador em mãos. Com todas as vantagens… e mazelas.

O problema mais grave é o que concerne à segurança. Eventualmente são encontradas brechas em navegadores, aplicativos e no próprio sistema, e as correções dependem da disponibilização de uma versão futura. Já foi encontrada, por exemplo, uma falha no navegador do Android 2.2: trata-se uma vulnerabilidade que permite roubo de dados do usuário. Por exemplo, um site malicioso pode explorar a falha para acessar arquivos armazenados no cartão SD do aparelho, bem como numa lista restrita de outros arquivos e dados armazenados.

No caso acima, tão logo o problema foi reportado, o Google prontificou-se a corrigi-lo em sua próxima versão, a 2.3. E aí vem a gravidade da questão: apenas uma fração dos aparelhos Android receberá este update.

Entusiastas da tecnologia móvel queixam-se muito do excesso de controle da Apple em seus dispositivos, aniquilando a liberdade do usuário na maneira de utilizar seu produto. Entretanto a empresa está constantemente trabalhando no sistema, garantindo as atualizações para todos os seus aparelhos, até o limite do hardware. O primeiro iPhone recebeu todas as atualizações que seus irmãos mais novos ganharam, até o ano passado, quando o iOS 4, mais exigente em recursos, o aposentou. No universo mobile do Google, só o Nexus One, do próprio Google (e seu sucessor Nexus S) tem essas atualizações garantidas, até o dia inevitável em que o hardware estará obsoleto.

A esmagadora maioria dos Androids ativos no mundo é de empresas que licenciaram o OS do Google — Motorola, Samsung, HTC, LG etc. O compromisso de atualizá-los é delas. Contudo, todas aderiram ao sistema Android por ser aberto, garantindo uma boa economia com licenciamento. Investir em desenvolvimento de software e atualizações não é prioridade.

O Android tem se mostrado um mina de ouro para as empresas que o licenciam. Seu sucesso, indicam números em todo o mundo, é fato. Todavia os usuários já perceberam, de uma maneira bem amarga, que a liberdade que eles querem ao fugir da cara e controladora Apple pode custar bem mais do que se imaginava.

Se não for tomada uma providência — pelo menos uma política mais transparente, com um calendário de atualizações previstas — isso logo se refletirá nas vendas.

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